sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Homens ou ratos?

Diferentemente do que fiz na época do falecido Orkut, quando eu o utilizava para divulgar um trabalho na música (cheguei a ter seis perfis), uso meu Facebook (a página do Hikari – Recriando Vidas é outra parada) com duas propriedades: 1 – me comunicar com alguns amigos, e 2 – como uma espécie de Alter Ego. Em ambas não há absolutamente a menor intenção de contabilizar curtidas e ser popular para então me tornar uma pessoal melhor, de bom caráter, bem sucedida e feliz. Como sou (na real sempre fui) um cara que não tem nenhum receio de pensar, de ir fundo, mexer com minhas entranhas e chacoalhar geral, chego a algumas conclusões e coloco muitas para fora, utilizando a ótima ferramenta virtual para registrar alguns de meus pensamentos, gostos e anseios. Igualzinho a um caderninho de anotações, tal como havia no passado.Desde que passei a estudar Psicanálise, comecei a me compreender melhor e dar ainda mais importância às minhas ações e reações comigo mesmo, com as pessoas e até com esse troço aqui (a única mídia social que de alguma forma me atrai), e, por consequência, ficar mais atento também às de alguns amigos. Aliás, as redes sociais são um exercício riquíssimo para se estudar o comportamento e a mente dos usuários. É fácil notar aqui várias “tribos”: os que vão para um caminho parecido com o meu (comunicação e compartilhamento de pensamentos e gostos), os que basicamente (no sentido bacana da coisa) se divertem (postando vídeos e mensagens engraçadas ou sacanas), aqueles que a utilizam como cara metade e registram tudo que fazem (claro, só o que é politicamente correto), e outros que buscam passar o quanto são infelizes, angariando, assim, o almejado carinho do próximo (em forma de comentários, curtidas, emotions, etc) para se sentirem confortados e de alguma forma supridos na carência. Em todos esses casos existe, independentemente da proporção, forma e importância, uma relação de reciprocidade, uma interação, mas também a exposição clara de traços de neurose. É natural, por ser esta (a neurose "basiquinha") uma característica de muitos (talvez a maioria) dos seres humanos e não implicar em nada grave (desde que não tome proporções). Entretanto, há um outro grupo ao qual precisamos estar muito bem atentos. É composto por aqueles que fazem uso do Facebook cem por cento com o intuito de somente abafar suas frustrações e alimentar o ego. Esses enxergam “seus amigos” como meros figurantes para suas atuações, exibições ou objetivos. Na verdade, não existe troca, pois não sobra espaço para isso. O ego tomou conta de tudo. São pessoas que se colocam em um patamar acima (ou dois, três...) e apenas “se apossam” do outro que, então, passa a ser quase como aquele ator chamado de escada para que o astro, galã, bonitão, apareça dominando a cena. É como se precisassem dessa relação de aparente superioridade para legitimar sua posição, diferentemente, por exemplo, de um artista que, independentemente de ter público e ser famoso, sempre será um artista. Esse grupo que usa os “amigos” para se fortalecer muitas vezes perde o contato com a realidade e, sem se dar conta, tem a sua antes desimportante caraterística neurótica transformada em obsessiva ou até mesmo psicótica. Ou seja, o que era para ser um site de contatos (profissionais ou pessoais) se torna para alguns aqui presentes uma ferramenta para exercício de atividades compulsivas e psicóticas. Se tais pessoas criam seus personagens de forma consciente e mantêm o controle sobre eles, ok, segue o bonde na linha da neurose e da esperada fragilidade psíquica “típicas” que, repito, caracterizam a maioria de nós, habitantes desse planeta. Mas se o bonequinho criado já foge do nível do consciente e passa a quase ter vida própria (a pessoa de fato acredita ser melhor do que as demais), aí a coisa pega, porque a desconexão com a realidade é clara, e os semblantes compulsivos ou psicóticos de antes ganham contornos vibrantes, limpos e reais.Como fazia normalmente antes de criar este blog, postava no Face um ou outro texto meu para registro, mas aproveito para sugerir uma reflexão a fim de que monitoremos nossas ações e reações, e também as de alguns “amigos” que utilizam aquela interessante mídia social (e outras) para absolutamente sugar nossa atenção e nos utilizar como escada. E quanto mais tal atenção dermos a esses sanguessugas virtuais, maior será o número de degraus alcançados para tal ação compulsiva e psicótica, as quais podem posteriormente fazer mal de verdade, inclusive a quem municia e incentiva tais ações, como também a quem nada tem a ver com o pato.Como citei lá no comecinho, taí um interessante exercício para colocarmos em prática o discernimento e o poder de escolha em nossas relações. Infelizmente, a sociedade atual, regida pelo consumismo e imediatismo, vem convocando seus integrantes a uma uniformização (outro tema que quanto estiver com paciência mandarei aqui) de gostos e interesses. Esse claro objetivo ideológico (visa poder, visibilidade, grana) quer inibir a reflexão, o questionamento e, por consequência, a escolha. E a capacidade de escolher (amigos, inclusive) é uma característica absolutamente pertinente somente ao homem, único ser vivo que dela (a escolha) pode fazer uso. Se perdê-la, irremediavelmente a espécie humana cumprirá o legado criado por ela mesma e se nivelará aos demais animais, uniformizadamente reféns de seus destinos. Tal como um rato, que não pode ter outra vida que não seja a de um rato.


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