segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Eu e os outros

Depois de ler e conversar duas vezes semana passada sobre o tema “Amizade”, resolvi registrar um pedacinho do penso sobre os relacionamentos sociais de hoje e revelar um pouco do manual de instruções (para uso popular) que vem comigo desde que nasci. Deixo claro meu absoluto repúdio a essa imensa babaquice que é o tal “o que vão pensar de mim” ou coisas que o valham, aliás lamentável lema de vida adotado por muitos que alimentam essa sociedade desnutrida de ética, hipócrita e arrivista. De um tempo pra cá, mais precisamente de quando efetivamente superei (porém sigo bem atento) a depressão, passei a refletir sobre comportamentos, tanto os meus como os do outro (outros). Ou seja, minhas ações e as das pessoas com as quais tenho algum tipo de contato. Fui uma criança, um jovem e agora um homem que jamais fez distinção quanto a amizades. Sempre integrei tribos diferentes, e até fui criticado sobre isso. Apesar de excessivamente tímido, eu topava (quase) qualquer parada e vestia a roupa completa do parceiro, companheiro, amigo. Jamais fui e não sou de fazer média com ninguém, e uso a condição expressa de querer o bem do outro para dizer o que eu penso, independentemente de ser agradável ou não. Até porque se meu sentimento pelo outro não fosse de amizade, eu sequer abro a boca. Claro que busco o jeito de fazer a coisa, mas não me intimido de, estando certo ou não, tentar dar ao amigo minha colaboração em questões que fundamentalmente envolviam o caráter e as possíveis consequências de certas atitudes.Mas tem um detalhe importante: eu era um cara muito egocêntrico, bem mais do que sou hoje, e tentava impor, à base de argumentos que considerava claros e lógicos, as verdades as quais não percebia que eram MINHAS. Com o tempo entendi que as tais minhas verdades não eram assim tão claras e muito menos lógicas, porém percebi também que meus amigos não eram tão amigos a ponto de refletirem sem parcialidades, regidas pela vaidade, sobre o que eu defendia. Alguns tratavam, sem nenhum trabalho de reflexão, de me julgar baseados em conceitos criados por eles mesmos em relação a mim, porém nem sempre praticados pelo autor. Aquela típica situação de ter um pensamento quando o foco é o outro, mas um diferente quando o protagonista da história era o próprio. Diante dessas posturas e atitudes tão incoerentes e controversas de alguns “amigos”, eu fui naturalmente seguindo meu caminho, porém sem deixar de me colocar à disposição, de estar pronto para ajudar (quando e se preciso) e, fundamentalmente, ser um cara que "está junto". Até que um dia...eu acordei. Abri meus olhos e olhei em volta. É nessa hora, quando você desperta (seja porque razão for), que vê de fato quem está ao seu lado, quem faz jus a distinção de ser seu amigo. Não me refiro, claro, à presença física, mas àquela que de fato preenche: a presença em espírito, em energia. Nesse meu despertar, enxerguei poucos, bem poucos, mas que me mostraram que de fato eram leais. Assim como também mostraram suas verdadeiras faces os que ao meu lado não estavam mais. Foi a partir daí que passei a prestar mais atenção nas atitudes dos outros para comigo, a famosa interação. Percebi que, tirando a daqueles poucos que estavam e seguem presentes após meu despertar, a sinceridade vem se tornando artigo de luxo hoje em dia, sinceridade essa que associo diretamente à lealdade. E ser leal é o item 1 do meu manual de instruções, que ensina as pessoas a me entenderem e, se quiserem, seguir me julgando sem nenhum problema.Vou dar um exemplo prático de como funciona pra mim nas chamadas mídias sociais. Se um dia alguém vir um comentário meu ou uma “curtida” minha em alguma de suas postagens, pode estar absolutamente convicto de que nada mais me moveu a não ser a vontade de “falar” com essa pessoa, dizer o que penso, porque naquele instante ela me tocou de alguma forma. Não existe possibilidade de outra razão que não seja esta. Não existe a menor chance de eu fazer uma coisa estrategicamente pensando em outra. Se recebo um convite, não sou homem de dizer sim querendo dizer não, enrolar e depois criar uma justificativa para, “tristemente”, não poder aceitar a gentil proposta pelo fato de estar muito ocupado, cansado à exaustão ou “impossibilitado no momento”.Não faço postagens para ser adulado ou admirado, eu as faço porque é uma forma de tirar de dentro de mim o que me alegra ou o que me incomoda, seja o que for. E, por outro lado, não prestigio a mensagem de alguém no intuito de ser simpático, gente boa ou de nutrir a intenção de me aproximar, quem sabe até para um “colóquio mais íntimo”, como alguns fazem “inbox”, interessante opção que eu chamo de “sala da intimidade” ou “cantinho do capeta”. Se dou minha curtida é porque aquilo me agrada, não só o que foi postado, mas a combinação com quem fez a postagem. E isso talvez seja difícil para muitos entenderem. Fazer algo sem querer nada em troca. Fazer o que se tem vontade pelo simples fato de estar vivo e ser livre para escolher o que fazer, seja o que postar ou o que “curtir”. Como convidar alguém pra bater um papo, sem necessariamente que o mesmo encaminhe para uma cama (chão, pia da cozinha, parapeito da janela ou até o lustre da sala), banco de um carro, areia da praia ou qualquer outro local que dê vazão à libido contida. Difícil, né? Pra mim não é não.E assim vou seguir, espero, até o meu último dia aqui (não me refiro ao blog, rs). Sendo amigo de quem quer que eu seja seu amigo. Se ganho um sorriso, que seja sincero. Se ganho um carinho, que ele seja verdadeiro, porque escolhi seguir pelo caminho oposto ao da dissimulação, da falsidade, do desrespeito, da mentira, da deslealdade. Sei muito bem que o preço é alto (sinto na prática), e as consequências talvez irreversíveis, uma estrada que pode mesmo levar à solidão. Mas, como já disseram certa vez, sempre será muito melhor estar só do que mal acompanhado.

7 comentários:

  1. Excelente, Edu! Sucesso no Blog! Eriqueta! Zé Google é ótimo !!!

    ResponderExcluir
  2. Gostei...
    Os relacionamentos verdadeiros despidos de interesses, mesmo que subliminar estão cada vez mais difíceis...
    E assim segue a humanidade acreditando que ter um amigo verdadeiro é coisa de carência...
    Não é... É sinceridade...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É bem como eu penso. Um sanduíche de mortadela (que aliás, eu me amarro) certamente vai matar a fome de quem não tem absolutamente nada pra comer. Uma pessoa faminta, seja do que for, só tem um objetivo em mente: matar a fome.
      Beijo grande, Jani, e valeu mesmo pelo carinho. Te espero na próxima.

      Excluir
  3. Gostei...
    Os relacionamentos verdadeiros despidos de interesses, mesmo que subliminar estão cada vez mais difíceis...
    E assim segue a humanidade acreditando que ter um amigo verdadeiro é coisa de carência...
    Não é... É sinceridade...

    ResponderExcluir
  4. Pois é, ser leal... descobri que a grande maioria das pessoas não sabem o que significa!!! E lealdade é ingrediente fundamental ao bom caráter, possivelmente por isso é que gosto do seu estilo, do que escreve, do que comenta. Uma ou outra coisa é que me confunde e não me aprofundo, confesso. Talvez (ou provavelmente) para não me encafifar mesmo. Posso amarrar um bode, aí já viu, né? Os meus seis quase ponto dois, pesarão.
    Tudo muito correto e digno o que escreveu. Temo apenas pela parte da solidão. Não sei se é eternamente suportável!
    Bjssssssssssss, meu querido, Deus o abençoa!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Brechique, muito obrigado mesmo pelo carinho de sempre. Fico feliz de verdade que curta o que eu escrevo (digito). Quanto às possíveis confusões que certos pensamentos meus podem causar, isso é bem normal, até porque nenhuma conclusão a que chego é superficial. Ao menos eu acho, rs. Mas há três possibilidades para as possíveis confusões: 1 - Fui profundo demais, e talvez a reflexão não merecesse tanto; 2 - Apesar do cuidado em objetivar e ilustrar alguns conflitos subjetivos, não estou sendo eficiente como desejo; e 3 - Pirei mesmo, rs.
      Beijo grande, e te espero na próxima.

      Excluir